quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Primeira reunião: check

Hoje fui à reunião para inscrição no processo de adoção. Não vou negar que tremi de nervosa só de saber que o primeiro passo seria dado.
A reunião foi informal, cerca de 10 pessoas compareceram. Sentados em círculo numa salinha do Fórum, a Assistente Social entregou uma lista contendo a documentação necessária para a abertura do processo e foi explicando cada item. Basicamente, as exigências são as mesmas em todo lugar. O que nos solicitaram foi:

- Certidão negativa de antecedentes criminais
- Comprovante de renda familiar
- Declaração de saúde mental e física feita por um médico (não precisa ser psicólogo)
- Declaração de idoneidade moral de duas pessoas (não familiares)
- Fotos atuais do casal pretendente e da casa

Tudo isso é muito razoável, na minha opinião. E olha que detesto juntar papelada. Trata-se de uma relação mínima de documentos que apenas dizem que você: tem amigos, tem família, mora em uma casa normal, não é louco, tem condições financeiras para criar uma criança, não é um criminoso. Simples.

Esclarecido cada ponto da documentação, ela passou a falar sobre a tão temida "fila de adoção", sobre o cadastro nacional, a demora nos processos, etc. Em resumo, ela deixou uma coisa bem clara: o que mais conta pontos para os adotantes é a motivação. Ou seja, o que levou o casal a optar pela adoção e como a adoção é vista por eles. Todos os argumentos foram bastante razoáveis, alguns um pouco desanimadores (a demora nos processo de destituição familiar, as mil e uma tentativas de reintegração da criança à família biológica, etc).

Mas essa fila é um pouco ilusória. Primeiro por que uma das razões de ela não andar está nas exigências dos casais (a preferência por meninas recém-nascidas brancas continua), segundo pq não é uma fila linear, as crianças aptas para adoção são encaminhadas para as famílias que o juiz declarar mais adequadas naquele caso específico. Resumindo, cada caso é um caso.

Bom, tenho mil e uma impressões e comentários para fazer acerca dessa reunião, então vou separar isso tudo em posts para não escrever uma bíblia hoje. Só para finalizar, teremos que realizar um cursinho breve, são 3 encontros que servirão mais para trocar experiências e entender melhor como será essa jornada incerta.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Reunião marcada

Apesar de ter trabalhado até muito tarde ontem, e de consequentemente ter perdido feio a hora hoje, despertando com aquela sensação de que o dia ia ser mais uma loucura, parei tudo e liguei para a Vara da Infância.

A reunião para inscrição no processo de adoção acontecerá no dia 26 de outubro, quarta-feira que vem. O horário torto (14h30) impede que a Camila esteja lá comigo, infelizmente. De qualquer forma, parece que essa reunião é só uma pontinha do iceberg, já que não precisa levar documentação nenhuma ainda.

Bem, semana que vem trago novidades.

domingo, 16 de outubro de 2011

Urubus da vida moderna

Como a adoção sempre foi um tema presente em nossas vidas, frequentemente lemos e conversamos sobre o assunto. Um blog que acompanhei desde o princípio foi o www.epinion.com.br/adocao, que depois virou o livro "A Aventura da Adoção".

Hoje volto a ler os poucos posts com outros olhos, já me imaginando no lugar deles, que compartilharam todas as experiências, angústias e ansiedades antes de ter o filho tão sonhado no colo. Uma delas já estamos vivenciando, antes mesmo de iniciar o processo: são os amigos e conhecidos urubuzentos. Com certeza vocês já devem conhecer alguém assim. Urubuzentas são aquelas pessoas que, por maldade, ignorância, preconceito ou falta de noção mesmo, opinam sobre a sua vida de forma negativa, prevendo desgraças e problemas que você poderá enfrentar tomando esta ou aquela decisão. É um tal de "dar força contra" que, me desculpem os mais evoluídos espiritualmente, a mim irrita horrores!

Eis que comentávamos felizes sobre nossos planos de adoção em um grupo de amigos, quando escutamos coisas do tipo: "ih mas vocês vão ter muito problema com isso", "aguardem, quando ele chegar na adolescência vai ser só estresse", "conheço casos de pessoas muito boas que se ferraram pq adotaram", etc.

Não preciso reforçar aqui que isso, além de ser extremamente deselegante, é de muito mal gosto. Me ponho a pensar em quanto essa justificativa de "isso vai ser um problema" afasta as pessoas de experiências ricas e gratificantes. Será que essas pessoas imaginam que vida significa o quê? Um mar sem ondas, um campo sem vento? Querem se enviar numa bolha e evitar tudo o que possa desviá-los de uma vida perfeitamente controlável?

Isso sem falar na dificuldade de se comprometer. Andei ouvindo muita história de pessoas que adotam e, depois de meses ou anos devolvem a criança. Como assim devolvem? Se o filho sai da barriga, você não tem a quem devolver, mas se ele vem de um abrigo, basta complicar sua vida e você desiste dele? É como um produto no mercado, como comprar uma geladeira: você compra, acha linda e funciona super bem. Mas quando começa a apresentar defeito, corre pra devolver antes de acabar a garantia... Se acaba a garantia faz o que? Joga no lixo? Imagino que essas são as mesmas pessoas que largam o emprego quando levam um puxão de orelha do chefe, que largam a esposa ou o marido quando conhece as manias chatas, que rompem uma amizade porque não concordam com um ponto de vista do outro, que abandona o cachorro porque ele fez xixi no tapete.

Adoção é uma surpresa, uma expectativa. Assim como a gestação. Ter um filho que nasceu do coração ou da barriga só difere nas características básicas. Você pode dar a luz a um filho que se tornará um adolescente problemático, com ódio do mundo, ou então pode ter cárie, alergia, precisar de óculos, de aparelho nos dentes, ele pode ter dislexia, pode ter uma deficiência de cálcio, nascer surdo, pode perder uma mão, quebrar o pé, pode nascer com síndrome de down, pode ter paralisia infantil, caxumba, gripe, asma, sarampo, pode ser hiperativo, canhoto, tímido, esperto, pode ter dificuldade de aprender matemática, pode sofrer bullying, praticar bullying, pode colocar um sapo na sala do diretor da escola, pode fazer você perder trabalho por causa de uma dor de barriga.

Ele pode ser e fazer tanta coisa que você não imagina! Se você engravida ou entra na fila da adoção, naturalmente sabe que tudo isso é possível, mas a única coisa que você quer é viver a experiência de ter um filho, de ser mãe, de sentir esse amor incondicional e entender qual é a graça de ouvir a mesma música besta 20 mil vezes só para curtir o sorriso do seu bebê. Então já é hora de essa gente acordar desse sonho neurótico de vida cor-de-rosa e se propor uma vida normal. Isto é: com erros, falhas, imperfeições, contratempos, acidentes... Enfim, com "problemas".

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Futuros avós

Se tem algo que eu e a Cah temos de sobra nessa loucura toda é o apoio dos futuros avôs e avós. Tem coisa melhor? Se eu voltasse uns 10 anos no tempo jamais imaginaria que hoje estaria casada com uma mulher, assumidíssima, feliz, comprando nossa casa, planejando nossos filhos e, sobretudo, com a torcida dos meus pais e dos meus sogros.


Para contextualizar: minha mãe é católica, devota, quase se tornou freira, participa de grupos da igreja regularmente, demorou muito para aceitar minha sexualidade. No mês passado ela esteve aqui fazendo uma visitinha e entre uma conversa e outra, ocorre o seguinte diálogo:

Ela: As pessoas precisam começar a aceitar que o mundo mudou, que existem novas famílias!
Eu: Pois é mãe.
Ela: Lá no ECC (grupo de casais que se reúnem na igreja) a gente sempre ressalta a importância disso. Hoje em dia as coisas não são mais como antigamente, existem muitos pais separados, solteiros, casais gays... Desde quando que um casal homossexual não é capaz de educar uma criança?
Eu: ....é
Ela: Agora dizem que uma criança "vira" homossexual pq é criada por homossexuais... Onde já se viu? Ninguém VIRA alguma coisa, as pessoas são assim ou assado! E tem mais: uma criança precisa é de amor, de educação, de carinho. É isso que vai fazer ela ser feliz, crescer saudável.

Toda trabalhada na militância.

Mais tarde, ela e a Cah estavam falando sobre os nossos cães e gatos (que são muitos):
Ela: Bom, né... tá na hora de parar de adotar cachorro pra começar a adotar crianças!
Cah: O__O!!

Minha sogra querida também não perde a oportunidade de comentar sobre o quanto ela acha incrível ser avó e  "quando é que vocês vão me dar essa alegria?"

Ai ai como essa criança é esperada... =)

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Uma nova caminhada

Hoje fui na Vara da Infância. Coisa mais estranha entrar na comarca da minha cidade, aquele edifício imenso com cheiro e cor de burocracia, dezenas de salas para todo o lado e eu entrando em cada uma - "oi! é aqui que consigo informações sobre adoção?" - eu sou do tipo que tá na cara que nunca entra em repartições públicas, nem sei pra que lado seguir e sempre acho que vou ser presa ou levar alguma multa (oi?).
Uma pena foi descobrir que eles fazem uma reunião mensal no final de cada mês. Ou seja, para se inscrever agora só na última quarta-feira de outubro. Em breve será lançado o edital e terei mais informações, mas até agora é isso: comparecer na última quarta. Para quem tá pensando em fazer o mesmo, cada cidade tem uma organização diferente, então o melhor é comparecer ao juizado com um documento! A orientação sexual, dizem, não deverá interferir no processo sob hipótese alguma, bem como a união homoafetiva. Mas isso nós veremos... Aguardem mais notícias.

A adoção não foi uma ideia que surgiu agora, por conta da IA que não deu certo. Na verdade esse sempre foi meu grande sonho, compartilhado com igual intensidade pela Cah. Eu falo que desejo adotar uma criança desde que me entendo por gente, desde antes de saber da minha sexualidade. É algo inexplicável, forte demais, como se eu tivesse essa missão a cumprir.

Apenas colocamos a adoção em segundo plano porque sabemos que é mais difícil adotar um bebê. Assim, se tivéssemos nosso baby biológico primeiro, não teríamos essa ansiedade em ter um neném no colo - além do que, teríamos mais experiência para poder adotar uma criança com X idade. Mas se tem algo que a vida anda nos ensinando é que devemos ter o coração sempre aberto a qualquer momento, não adianta determinar todos os passos. Portanto vamos entrar na fila da adoção, mas sem desistir de tentar uma nova IA.


O amanhã é quem irá nos revelar como será nossa família.