terça-feira, 14 de agosto de 2012

A saga da adoção - Começa a maternidade

Bom, esse post demorou um pouco a ser feito por uma razão. Esse período foi muito difícil para mim (algumas de vocês sabem bem disso). Foi difícil relembrar as emoções, as situações que enfrentamos nesses poucos dias (que pareceram muitos). Mas acho que agora sai.

Como já comentei antes, a Cah conquistou nossa gatinha assim que chegou perto. Ela tem um jeito todo mãezona, é carinhosa, tem muito jeito com criança. Eu amo crianças também, e brinco muito com elas. Mas não tenho esse "quê". E tão logo ela se ligou à Cah, tratou de me rejeitar. Se antes ela gostava do meu colo, nesse dia já não dava nem a mão. Se antes pedia para brincar, nesse dia chorava com a minha presença. Não aceitava mais trocar as fraldas comigo, nem dormir, nem tomar banho ou escovar os dentes, não ficava comigo sozinha nem por um segundo.

Isso foi gradativo, como se eu perdesse um pouco de ar a cada minuto até que chegou ao segundo dia de rejeição e eu já estava em frangalhos. Meu emocional picotado, cada não dela era uma dor no meu coração.   E quando falo em dor no coração, não estou usando uma figura de linguagem, doía mesmo. Sentia uma pontada, um peso no peito, um nó no estômago e uma pressão nos ombros. Em menos de 48 horas eu não conseguia falar no assunto sem chorar.

A Cah conseguia tudo dela, e cada sorriso que ela dava - contra a cara fechada que eu ganhava - me feria. Me sentia fracassada, derrotada, frustrada por não poder curtir o momento como a Camila curtia, envergonhada por não conseguir o amor da minha filha, constrangida por estar passando por isso depois de tudo o que havia feito para tê-la conosco.

A Cah também não podia ficar feliz com isso. Ver que eu não conseguia me aproximar mais a fazia ter raiva da situação, e medo de ter raiva dela também. Afinal, nessa altura nós duas tínhamos o verdadeiro vínculo, ainda não éramos três. Éramos duas tentando ser três, nada além disso.

Todo esse sofrimento me encheu a ponto de não poder esconder mais. Lembro do peso de um momento em que ficamos nós duas no banheiro abraçadas, chorando, perdidas, uma buscando apoio na outra, só pensando em desistir de tudo e voltar pra casa.

Tinha que dividir isso com alguém, ou melhor, com alguéns. Queria saber se isso era normal, se eu era louca, se se se.... Corri para a internet, conversei com outras pessoas que estavam em processo de adoção também, passei uma tarde inteirinha de confidências com a Piu (dia inesquecível hein sapa? kkkk). Hoje posso pedir desculpas se a deixei aflita, mas o ombro que eu tanto precisava, encontrei ali. Um momento único que ajudou a aquietar meu coração.

Nossas queridas, extremamente sensíveis e carinhosas, sem poder ignorar tudo o que passávamos no cômodo ao lado, deixaram (sem combinar!) seu recado. A Lu me entregou uma cartinha antes de sair para o trabalho, a qual li três vezes consecutivas porque chorava tanto que engolia umas frases. Logo depois, foi a vez da Lore, que deixou na minha caixa de e-mails palavras escolhidas a dedo, revelando muito mais do que eu esperava saber na vida. Foram lidas aos soluços rs

Bem, de alma leve, mas ainda dolorida, nos arrumamos para a entrevista com a AS. Decidimos abrir os corações com ela, contar tudo o que estava acontecendo. Que alívio termos feito essa escolha. Assim que tive a oportunidade de ficar a sós com ela, desabei. Falei tudo o que sentia, o que estava acontecendo e como tudo isso estava sendo para mim. Me expus mais uma vez, ri, chorei, me desmanchei diante dela, e ela permaneceu com os braços cruzados impecável.

Quando terminei de relatar a novela, ela calmamente me olha e diz: meu bem, ela está te testando!

Hein?

É isso, ela está testando você - repetiu. Ela sentiu sua fragilidade, você ficou no lugar dela e hoje a menina abandonada é você.

Se tudo estava doendo até aí, imagina ouvir isso. Foi um tapa na cara, mas bem dado. E continuou, agora mais como um abraço: os filhos testam o amor dos pais, precisam entender se é real, se é duradouro, se resiste a tudo. Você precisa mostrar que veio para ficar. Ela não te odeia e nem te ama, ela não te conhece! Ela não conhece vocês, está com medo, não conhece o amor.

Eu fui ouvindo tudo com alívio, parecia que finalmente começava a respirar. Terminada a minha "terapia", chegava a vez da Cah, que também levou seu tapinha. Cah precisava proteger menos, mimar menos, dar menos atenção às birras. Resumindo: cometemos o erro das mães de primeira viagem! Só isso.

Como quando a mãe da gente assopra o machucado e diz que vai passar, saímos de lá horas depois rindo pela primeira vez na vida. Sem fazer ideia do que viria a seguir, eis que começávamos uma nova etapa: finalmente a maternidade.

7 comentários:

  1. ai, ai... #suspiros.

    Estávamos eu e a Lu comentando ali agora o quanto ler esse post foi reviver aqueles dias... Bateu forte aqui também, Vi. Como expus já pra vc, foram dias difíceis pra gente também. Nós duas, como amigas, fizemos o que estava ao nosso alcance, assim como sei que a Piu, de longe, com o coração apertado, fez o que estava ao seu alcance também. Foram 48h em uma montanha-russa de emoções. Me lembro das expressões de vcs e da pequena naqueles dias tão vividamente... com certeza, foram dias muito marcantes para nós.

    Queria fazer umas considerações. Primeiro, você tem sim o "quê" da mãezona, porém tem características diferentes das da Cah, e é lindo isso, porque vocês se completam! Vc é coração puro, Vi. Talvez por isso esse início tenha sido mais difícil pra vc do que pra Camila. Mas vc é a mãezona que faz o mingau, que faz a massagem gostosa depois do banho, que canta pra dormir, que se preocupa com a alimentação, cujos olhos brilham mais sempre que sua filha sorri, ou faz uma gracinha... A Camila pode te confirmar, porque você não está fora do próprio corpo pra ver isso, mas sua expressão se transforma quando você está cuidando da sua filha. Vc é sim uma mãezona, e a Camila é outra mãezona, a Lalinha tá bem servida de mãezonas! ;)

    Outra coisa que queria comentar é minha admiração pela força da sua esposa naqueles dias. São mtas palavras que eu gostaria de falar pra ela, mas não sei se aqui é o melhor lugar... Só queria dizer que acho que foi graças a força que a Cah tirou não sei de onde, que vocês conseguiram atravessar aqueles dois dias sem piores consequências. Não sei mesmo de onde ela tirou forças, mas ela conseguia cuidar da Laura e tentava cuidar de vc ao mesmo tempo, numa situação extremamente complicada. Eu só pedia mto a Deus pra que ela continuasse firme, porque eu sabia que o que fosse acontecer, dependia dessa firmeza e força dela. E que mulher forte! Não canso de admirá-la ainda hoje por tudo que ela conseguiu administrar naqueles dias, mesmo sabendo que seu coração estava em pedacinhos... Por isso digo que vocês duas se completam: uma é a garra, a força, e a outra é a emoção, a fragilidade... E a filha de vcs já é uma síntese linda disso tudo, uma criança de personalidade forte, uma guerreira, mas ao mesmo tempo doce, delicada, sensível...
    Era pra ser assim. :)

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    1. Nossa Lore, sem vcs aqueles dias teriam sidos bem mais longos e difíceis de administrar.
      Tu sabe q não sou muito de falar de mim, mas foi bem complicado pra mim, ficar entre a mulher que eu amo e escolhi para toda a minha vida e minha filha que eu já amava. Tentar fazer o meio de campo entre as duas que demoraram um pouquinho mais para se encaixar, talvez porque são parecidas, talvez pela ansiedade.
      Não podia ficar feliz pois ainda não eramos 3.
      Me senti tão dividida e incapaz. Pois não estava conseguindo ajuda-las.
      Olha fro, sinceramente te digo que foi bom demais conversar com vcs naqueles momentos!!!

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  2. Vi, imagino que não deve ser fácil e que também faz parte de todo esse processo.
    Desejo Boa Sorte e que esse anjo sinta-se amada por vcs e vice-versa.
    Bjs.

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  3. Cada capítulo que você conta dessa linda história,eu me apaixono mais ainda pela família de vocês!
    É impossível não se sentir privilegiada!
    Que a pequena se sinta cada dia mais amada por vocês e que retribua esse amor!
    Todo carinho do mundo pras três!!
    Mylla

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  4. Poxa, meninas, que difícil! Senti uma angústia lendo esse post, me imaginando na pele de vocês e sentindo a rejeição da filhinha. Mas adotar crianças mais velhas é mesmo um dos maiores desafios da maternidade/paternidade, porque é muito fácil criar um vínculo com um bebê, mas uma criança você precisa conquistar a confiança aos pouquinhos. Vi, não tenho dúvidas que rapidinho essa criança irá se entregar ao seu amor! Todas as histórias que conheço de famílias que adotaram crianças mais velhas foi assim, sabem? A criança precisa de um tempo! Imaginem tudo que essa menina já passou? Imaginem a confusão que está a cabecinha dela? Olha, tenho um amigo de SP que adotou a filha com 3 anos de idade, vou deixar o link do blog dele aqui, de repente seria legal vocês trocarem algumas ideias: http://paigay.blogspot.com/. Olha, de coração, minha opinião é que vocês 2 devem seguir prioritariamente seus corações e instintos! Dêem todo o amor que vocês podem dar a essa criança, mostrem que ela pode confiar em vocês e que vocês respeitam o tempo dela, tentem não forçar a barra! Acredito que tudo acontecerá naturalmente, vocês só preciam ter paciência.

    PS: qual o nome da filhota? Não lembro de ter lido alguma coisa sobre isso aqui!

    PS2: vocês já estão na casa de vocês?

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    1. Oie! Obrigada pela dica, vou conferir o blog dele!

      Sobre suas dúvidas:
      1. Não podemos divulgar nem foto, nem nome da nossa boneca na internet por enquanto. Logo logo vamos revelar tudo para quem não a conhece ;)

      2. Já estamos em casa sim! bjuu

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  5. Meninas, a nossa pequena dorme e pude navegar sem pressa e colocar em dia tudo que nossa rotina não nos têm permitido. Dei um pulinho na página da Paty e Ceci, meninas que conhecemos quando nosso filhote de 3 anos era um bebê e Mariah um lindo sonho sendo construído, e lembrei-me dessa vontade de conhecer o outro lado, das expectativas, dúvidas, do sofrimento da ansiedade e vejo hoje mães fantásticas que assim como vocês já estavam prontas aguardando apenas a chegada desse serzinho capaz de virar nossas vidas de pernas para o ar... Já sabia da existência de vocês através dos posts trocados com as meninas e ha tempos acompanhei este blog, mas hoje resolvi demonstrar através deste recadinho o quanto orgulhosa estou de vocês! Engraçado como mesmo de longe nos envolvemos emocionalmente com outros mesmo sem um dia termos trocado alguma palavra. Acredito que não tenha um que consiga não molhar o teclado com esses relatos lindos de amor. Estão tendo a oportunidade de vivenciar o que realmente é uma família com suas alegrias, aflições e difíceis decisões que na verdade aparecem em nossas vidas para nos fazer crescer, amadurecer, estarmos prontas para o que der e vier! Olha que svirão muitos... Quanto a rejeição nossa família inteira vivencia hoje essa manifestação da nossa pequena...Muitas vezes chama Cacá e apareço ou vice-versa e ela na cara dura vira para nós e diz: Chamei fulana e não você! Aff... Hoje tiramos de letra e respondemos: Mas não serve a mamães "x" não? E começamos a rir...mas tenham certeza que no início foi muito estranho. Adorei a definição da assistente social " Teste do Amor" ! Acredito também que este meu envolvimento pode ser explicado pelo fato de eu também ter sido adotada e ter, diferente da filha de vocês, testado meus pais na pré-adolescência e se não tivesse sabido desta parte da história de vocês eu nunca teria chegado a esta conclusão. Que sorte de vocês estarem passando por isso com esta pequena ainda pequena, momento que ainda temos grande domínio sobre eles, imagina mais tarde... Pré-aborrecente é fogo! rsrs... Desejo toda felicidade deste mundo, toda paciência e compreensão, pois logo-logo estarão lembrando desta fase difícil com belas risadas e afagos de filha apaixonada! Beijos,

    Luciana Lima

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