segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A saga da adoção - Abrigo nunca mais

Eu tenho um lado bem pessimista e outro super Poliana, por isso vivo em um conflito interno, ora aceitando a vida com resignação, ora acreditando no final feliz... Ora engolindo amargo a realidade.

E é com essas várias eus que chegamos ao abrigo pela segunda vez no sábado de manhã. No primeiro dia vimos o gramado enorme de grama bem aparada, os brinquedos no jardim, os quartinhos arrumados e limpos, a cozinha bem servida, etc. No dia seguinte abrimos melhor os olhos: vimos crianças implorando atenção, tosse para todo o lado, brinquedos velhos quebrados, pouca gente para dar conta de tanta criança.

Não vamos jamais desmerecer o trabalho feito por lá, afinal a equipe consegue fazer milagres com a miséria que recebe de ajuda. Por mais que as crianças que vão para lá sejam "institucionalizadas", o governo não faz nada por elas, não paga o sustento delas, não dá comida, não dá fralda, não dá nada. Inacreditável!

Bom, mas deixando a indignação de lado, chegamos sábado para buscá-la. Combinamos que faríamos um passeio com ela acompanhadas pela diretora do abrigo e, correndo tudo bem, poderíamos levá-la embora daquele lugar de uma vez por todas. Ao chegarmos, ela estava sentadinha aguardando (sem saber o que) toda arrumada. Estava emburrada, não quis sorrir para nós, mas se deixou levar.

Fomos ao Zoo. Ela não quis participar de nada. Foi com muito custo de mãos dadas com a gente, ficou manhosa, quis colo, chorou um pouquinho, ficou assustada e curiosa com tudo ao seu redor, ela não estava acostumada com novidades. Super compreensível.

Levamos um velotrol pensando que isso a deixaria mais tranquila, mas ela não quis saber e ficamos carregando aquilo a manhã inteira rs Só depois de muito tempo ela deu um mini-sorriso. Começou tímido, escondido da gente, mas foi suficiente para respirarmos aliviadas. Estávamos com tanto medo de ela azedar de vez conosco! Mas ao contrário, mesmo séria ela queria nossa atenção, pegava na mão, aceitava nossos carinhos. Era como se dissesse: "Esperem, continuem tentando, comigo a coisa é devagar".

Depois de horas tentando, se aproximava o horário do almoço. Tínhamos que levá-la embora. Com o coração apertado, o medo de não ficar com ela nos acompanhou até a porta do abrigo. Mas enfim, atravessamos mais essa etapa e nossa pequena deu adeus ao lugar por onde viveu seus últimos (e únicos) dois aninhos! Que orgulho dessa pequena, enfrentou uma das maiores mudanças da sua vida sem deixar uma lágrima cair (ao contrário de umas e outras rs).

Chegamos à casa das titias Lu e Lore com ela no colo e logo providenciamos um almocinho gostoso. O calor era de matar, enquanto ela comia, tirávamos um sapato, uma meia, calça, blusa.... No fim, estava ela pequenininha, peladinha, cabelos soltos, livre como deve ser. Não sei quem das quatro babava mais. Falávamos todas muito baixinho, voz besta, olhos arregalados observando cada pedacinho dela.

Era um começo, o nosso começo. Ela não dormiria mais na mesma cama, não veria mais os mesmos rostos, não comeria mais na mesma mesa nem tomaria banho no mesmo banheiro. Naquele dia, nossa guerreira tomou seu primeiro banho de chuveiro como uma mocinha. Completamente muda, sem dar qualquer sinal de estar gostando ou não - mas sem chorar. Concluímos que foi bom.

Vontade enorme de dizer que tudo bem ficar com medo, nós também sentimos. A vida dá medo, mas é uma delícia quando entramos de cabeça.

15 comentários:

  1. Vou voltar pra comentar melhor esse post amanhã (pq acabamos de chegar da rua) mas preciso fazer uma observação: primeira refeição dela fora do abrigo foi meu macarrão integral com molho vermelho e brócolis... Eu, toda insegura com meu macarrão (que eu realmente não estava achando bom), ganhei o dia, a semana, o mês quando, perguntada se o papá estava gostoso, ela respondeu que "sim", acenando com a cabeça... Gente, tipo assim, arrancar um "sim" dessa menina, como viemos saber mais tarde, era quase impossível! Era "não" pra tudo, e ela disse sim ao meu macarrão! De duas uma: ou tava mesmo bom, ou ela tava faminta, tadinha! hahahahaha

    No seu primeiro dia aqui, ela parecia um passarinho que caiu do ninho: toda frágil, pequenina, assustada, olhões arregalados, tremedeiras involuntárias, medo... óbvio, devia estar morrendo de medo. E nós, de certa forma, também. Medo de tudo, medo da fragilidade, da insegurança, do futuro, da vida... e olha que nem éramos, eu e a Lu, as mães. Mas também sentimos medo, inclusive por vocês.

    Graças a Deus essa saga tem um final feliz! :)

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  2. Lore, seu macarrão ficou MUITO BOM, caso ainda tenha dúvidas rsss

    Que legal ver o lado de vcs, ver que o que viam era o que nós também víamos... Dias memoráveis! Beijos!!

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    1. Não, acho que agora não tenho mais dúvidas, você e a princesa aprovaram, pra mim tá suficientemente aprovado! hahahaha

      E eu acho que esses posts estão servindo para que todas nós compreendamos melhor o que se passou naqueles dias. Está sendo ótimo ver o lado de vocês, os sentimentos de vocês, e é nesse espaço dos comentários que vamos também falar da nossa experiência frente a tudo que aconteceu, tudo que sentimos acompanhando a experiência de vocês. Fico feliz que o blog exista e que a gente possa escrever essa história, pra ela nunca ser esquecida. :)

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  3. Só de ler, me deu um frio na barriga, pensando como será????
    Jesus, o que passa na cabecinha dessa criança?
    Ai que medo bom.
    Bjs

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  4. Coisa linda de se ler.Só posso desejar a vocês toda felicidade que esta maternidade possa trazer.Me emocionei, imaginei quando chegar o meu momento, me emocionei de novo.Felicidades a esta família tão linda que vcs tres estão formando.

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  5. Ai, amiga... Me emociono lendo isso, sinto igual, se é que é possível, talvez seja muita presunção da minha parte dizer uma coisa dessas... Mas eu sinto tudo também, cada medo, cada insegurança, a delícia de cada momento desses. Vc tem noção de que a vida de vocês e da pequenina está mudada para TODO O SEMPRE? Super beijo e agiliza o nosso encontro, estou eufórica para conhecer a Laura.

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  6. Ai, amiga... Me emociono lendo isso, sinto igual, se é que é possível, talvez seja muita presunção da minha parte dizer uma coisa dessas... Mas eu sinto tudo também, cada medo, cada insegurança, a delícia de cada momento desses. Vc tem noção de que a vida de vocês e da pequenina está mudada para TODO O SEMPRE? Super beijo e agiliza o nosso encontro, estou eufórica para conhecer a Laura.

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  7. Feliz por vocês! E feliz por essa garotinha, que tem a chance de recomeçar sua vida ao lado de 2 mães que a amarão incondicionalmente! Bom saber que finais felizes existem, apesar de não serem iguais aos contos de fada. Continuem contando mais sobre como foram os primeiros dias com a filhota!

    Beijos

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  8. Emocionante demais essa linda história,a gente chega a ler segurando o ar,sem piscar,pra não perder nenhuma vibração!!
    Beijos e felicidade pra essa família de 3!!!
    Mylla

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  9. Foi um dia antecedido de uma noite em que ngm dormiu. Vcs, para logo poderem levar a pequena daquele ambiente que só subestimava a potência dela em ser gente, e nossa em poder conhecer aquela que daria esperança em um tanto de coisas para nós também.

    Lembro de qd vcs chegarem, ela toda quieta, se afofando nos braços de vcs. Ao passo que desejávamos sentir o cheirinho dela, apertá-la, mordê-la (ahaha), tínhamos consciência e orgulho por ela reconhecer em vcs a segurança que ela tanto precisava.

    Por isso, lutamos contra a nossa curiosidade em brincar com ela, em conhecer todas as suas graças, sendo que aquele momento era tão familiar (das três). Claro, nos dispusemos a ajudá-las, mas também nos encucamos em estar atrapalhando um momento crucial de entendimento particular. Era uma situação de pós-maternidade. Vcs precisavam aprender como era a bebê pedaço por pedaço, olhar por olhar, sorriso por (não) sorriso. rs. E nós ali, figurando aquelas tias chatas, que não respeitam a quarentena, que querem conhecer o novo rebento, quer mimá-lo, quer amá-lo.

    Por outro lado, também sentimos q não poderíamos nos afastar demais. Não sei, mas talvez nenhuma mãe consegue lidar tão rapidamente e sozinha com a maternidade tão logo dá a luz. Ou seja, não era justo que abandonássemos vcs à própria sorte.

    Esse misto de emoções, que ngm supõe ou que tod@s juram que estão preparadíssim@s para sentir, foi surreal, assustador e lindo.

    Tanto vocês quanto a pequena se despiram de um preparo; todas estavam na mesma altura de medo de errar, de se expor demais.. O resultado é que nenhuma leitura, estudo ou audições sobre experiências alheias serviu para que vcs pudessem lidar com a situação de ter uma filhinha em braços da maneira mais tranquila possível.

    Era uma família se construindo daquela que já existia e de uma criança que já tinha uma história de vida. A simbiose disso tudo é a descoberta de q vcs podem se arriscar mais e mais, e de que ela também pode se arriscar. Porque ela tem duas mães.

    Por isso, jamais vcs hão de entender a gratidão que eu e Lore sentimos por terem nos permitido presenciar esse momento singular.

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    1. gosto disso! a mesma história, um outro olhar... lindo!

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    2. gosto muito! a mesma história, outro olhar... lindo!

      Elza
      :)

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  10. Chorei de novo!!

    Amo vcs minhas amigas queridas!!!

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  11. fico pensando quando essa pequena crescer e tiver acesso a tudo isso... bem disse as meninas (Lorena e Luana) testemunhas oculares dessa linda história de tantas narradoras. :)

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