terça-feira, 5 de março de 2013

Ignorância se resolve com informação

No post anterior prometi que explicaria o motivo da reunião que tivemos com a psicopedagoga da escola da Laura.

Bem. Quando chegamos para deixá-la no segundo dia, logo na recepção nos pediram que aguardássemos, pois a psicopedagoga gostaria de conversar conosco. Certo, vamos deixar a Laura entrar e aguardamos ok? Não, a orientação era para que nós três esperássemos.

Azedei.

Aliás, azedamos. No dia anterior eu havia preenchido o cadastro da Laura, onde questionavam sobre as condições de saúde dela e necessidade de uso de medicação. Eu informei claramente que ela é soropositiva, mas que os remédios não eram administrados durante o período da escola. Não havia dúvidas de que nos chamaram por esse motivo. Caso contrário, por que pediriam para fazer a criança esperar também?

Estávamos convictas de que iriam negar a matrícula da nossa pimpolha. E a ideia de que isso estava prestes a acontecer nos encheu de ódio. Ficamos lá sentadas esperando e cochichando sobre o que faríamos, já planejando processar a escola por discriminação.

Quando a mulher chegou e nos chamou para conversar no reservado, entramos armadas, prontas para a briga. A ppdgoga senta, escolhe palavras e solta a primeira frase:
- Bem mães, eu chamei vocês aqui porque gostaria de falar sobre a situação diferente da Laura...
Fuzilando-a com os olhos perguntamos:
- Qual situação: ela ser filha de duas mães, ser negra, adotiva ou HIV+?
- HIV+.

Silêncio da nossa parte. É ela quem quebra o ar ao meio dizendo:
- Bem. Nunca tivemos um caso desses na escola e temos certeza de que podemos resolver da melhor forma. Apenas as chamei aqui, pois não entendo nada sobre o assunto. Quando li o cadastro da Laura já fui pesquisar na internet sobre o HIV+, sobre os cuidados necessários, etc. Queremos garantir que a Laura não seja privada de nada por conta disso. Então me falem sobre a situação dela, se há complicações, privações, atenção especial...

Ouvimos aquilo com um misto de alívio e estranhamento. Não esperávamos pelo melhor, isso é fato. Explicamos como funcionava viver com HIV no caso da nossa pequena, os cuidados médicos, os remédios, a alimentação, etc. Resumindo, explicamos que ela vive uma vida perfeitamente normal, pois não é doente, apenas é portadora de um vírus que está lá quietinho, indetectável, controlado. A Laura tem gripe, tem febre, dor de barriga como qualquer criança. E também corre, pula, brinca e quer aprender como qualquer criança. Ela já sofreu muito por isso no seu curto início de vida (conto em outro post - olha aí mais uma promessa), e mais do que ninguém merece todo o amor do mundo.

A profissional garantiu que nossa boneca teria o mesmo tratamento das outras crianças, se desculpou por sua ignorância no assunto e, assim, nos colocamos à disposição para esclarecer qualquer dúvida que surgisse. Ao final, aprendemos 3 coisas:
1. Quando a ignorância não vem travestida de preconceitos e moralismos, a informação é o melhor remédio.
2. Não devemos esperar sempre o pior, às vezes as pessoas podem surpreender.
3. Somos definitivamente mães leoas rs

Parece final feliz de livrinho infantil, mas foi bem assim que aconteceu mesmo. A escola não é perfeita, mas essa naturalidade com que recebe uma criança filha de casal homoafetivo, essa atitude transparente ao abordar o HIV+, um assunto tabu em nossa sociedade até hoje, tudo isso conta pontos.

5 comentários:

  1. Achei bacana a atitude da psicopedagoga, meninas! Ela realmente abordou o assunto com vocês de uma forma sincera, humilde e sem preconceitos. Pontos pra ela! Que bom que tudo ficou resolvido! E acredito que vocês estão realmente prontas para enfrentar qualquer problema futuro e, principalmente, para educarem e prepararem a Laura para o que ainda vier!
    Beijão (já estou ansiosa para os próximos posts!)

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  2. Pelo fato do preconceito que vivemos sempre estamos na defensiva né.
    Mas que bom a a escola soube abordar e entender que a Laura é uma crianca normal e ñ uma crianca doente..
    Muito bom a atitude da escola parabens.....


    bjs

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  3. (olha que chique esse blog, tem versão mobile, posso ler e comentar via celular, já que tô no mato e sem pc!)
    eu fico mto feliz em saber da atitude desa escola, viu, porque imagino que mtas outras não agiriam de forma tão positiva. Até pelo número de peculiaridades da Lala, como vcs mesmo enumeraram... Acho que sempre achamos que uma delas vai 'pegar' no preconceito alheio, né? Então que bom que não foi o caso! Com certeza, essa atitude honesta e acolhedora da escola conta muuuitos pontos a favor!
    Já disse que adoro quando vcs atualizam?? :) beijos de saudades!

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  4. Terminei a leitura desse post com um longo "UFA!!! Ainda bem que deu tudo certo!" Acredito que sempre sofreremos algum tipo de preconceito, mas o que sofremos hoje é deveras agressivo ao ponto de nos fazer esconder atrás de algo que não somos...o que não é o caso de vocês. É por isso que atitudes como a de vocês e de centenas de outras famílias, bem como outros tipos de manifesto devem ser disseminados, escancarados...isso parece nos dar força, nos mostrar que existe gente como a gente, que passa por coisas que a gente passa...essa é a importância da visibilidade...a qual ainda almejo. Continuo a ler os blogs, e observar como as famílias têm lidado com tudo isso. Boa sorte, meninas!!! Boa sorte para todas nós!!!

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  5. Olá!
    Fiquei sabendo da história de vcs pelo blog da Lorena (aqui em cima), minha filha chama Laura e eu quase morri de chorar quando li o post do dia da adoção de vcs... nossa, meu estômago ainda dói, só de pensar em quanta dor, quanto amor, quanto ensinamento, tudo para ser absorvido por vcs e, especialmente, por essa pequenininha aí.
    Fico feliz que o final da história de hoje seja positivo, pq eu fui lendo o post e pensando no que poderia ter acontecido... e, ufa... que bom! As pessoas podem nos surpreender positivamente tbm!!

    Vou ler outros posts, este é só o primeiro.

    Um grande abraço!
    Dani Rabelo

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