Bom, esse post demorou um pouco a ser feito por uma razão. Esse período foi muito difícil para mim (algumas de vocês sabem bem disso). Foi difícil relembrar as emoções, as situações que enfrentamos nesses poucos dias (que pareceram muitos). Mas acho que agora sai.
Como já comentei antes, a Cah conquistou nossa gatinha assim que chegou perto. Ela tem um jeito todo mãezona, é carinhosa, tem muito jeito com criança. Eu amo crianças também, e brinco muito com elas. Mas não tenho esse "quê". E tão logo ela se ligou à Cah, tratou de me rejeitar. Se antes ela gostava do meu colo, nesse dia já não dava nem a mão. Se antes pedia para brincar, nesse dia chorava com a minha presença. Não aceitava mais trocar as fraldas comigo, nem dormir, nem tomar banho ou escovar os dentes, não ficava comigo sozinha nem por um segundo.
Isso foi gradativo, como se eu perdesse um pouco de ar a cada minuto até que chegou ao segundo dia de rejeição e eu já estava em frangalhos. Meu emocional picotado, cada não dela era uma dor no meu coração. E quando falo em dor no coração, não estou usando uma figura de linguagem, doía mesmo. Sentia uma pontada, um peso no peito, um nó no estômago e uma pressão nos ombros. Em menos de 48 horas eu não conseguia falar no assunto sem chorar.
A Cah conseguia tudo dela, e cada sorriso que ela dava - contra a cara fechada que eu ganhava - me feria. Me sentia fracassada, derrotada, frustrada por não poder curtir o momento como a Camila curtia, envergonhada por não conseguir o amor da minha filha, constrangida por estar passando por isso depois de tudo o que havia feito para tê-la conosco.
A Cah também não podia ficar feliz com isso. Ver que eu não conseguia me aproximar mais a fazia ter raiva da situação, e medo de ter raiva dela também. Afinal, nessa altura nós duas tínhamos o verdadeiro vínculo, ainda não éramos três. Éramos duas tentando ser três, nada além disso.
Todo esse sofrimento me encheu a ponto de não poder esconder mais. Lembro do peso de um momento em que ficamos nós duas no banheiro abraçadas, chorando, perdidas, uma buscando apoio na outra, só pensando em desistir de tudo e voltar pra casa.
Tinha que dividir isso com alguém, ou melhor, com alguéns. Queria saber se isso era normal, se eu era louca, se se se.... Corri para a internet, conversei com outras pessoas que estavam em processo de adoção também, passei uma tarde inteirinha de confidências com a Piu (dia inesquecível hein sapa? kkkk). Hoje posso pedir desculpas se a deixei aflita, mas o ombro que eu tanto precisava, encontrei ali. Um momento único que ajudou a aquietar meu coração.
Nossas queridas, extremamente sensíveis e carinhosas, sem poder ignorar tudo o que passávamos no cômodo ao lado, deixaram (sem combinar!) seu recado. A Lu me entregou uma cartinha antes de sair para o trabalho, a qual li três vezes consecutivas porque chorava tanto que engolia umas frases. Logo depois, foi a vez da Lore, que deixou na minha caixa de e-mails palavras escolhidas a dedo, revelando muito mais do que eu esperava saber na vida. Foram lidas aos soluços rs
Bem, de alma leve, mas ainda dolorida, nos arrumamos para a entrevista com a AS. Decidimos abrir os corações com ela, contar tudo o que estava acontecendo. Que alívio termos feito essa escolha. Assim que tive a oportunidade de ficar a sós com ela, desabei. Falei tudo o que sentia, o que estava acontecendo e como tudo isso estava sendo para mim. Me expus mais uma vez, ri, chorei, me desmanchei diante dela, e ela permaneceu com os braços cruzados impecável.
Quando terminei de relatar a novela, ela calmamente me olha e diz: meu bem, ela está te testando!
Hein?
É isso, ela está testando você - repetiu. Ela sentiu sua fragilidade, você ficou no lugar dela e hoje a menina abandonada é você.
Se tudo estava doendo até aí, imagina ouvir isso. Foi um tapa na cara, mas bem dado. E continuou, agora mais como um abraço: os filhos testam o amor dos pais, precisam entender se é real, se é duradouro, se resiste a tudo. Você precisa mostrar que veio para ficar. Ela não te odeia e nem te ama, ela não te conhece! Ela não conhece vocês, está com medo, não conhece o amor.
Eu fui ouvindo tudo com alívio, parecia que finalmente começava a respirar. Terminada a minha "terapia", chegava a vez da Cah, que também levou seu tapinha. Cah precisava proteger menos, mimar menos, dar menos atenção às birras. Resumindo: cometemos o erro das mães de primeira viagem! Só isso.
Como quando a mãe da gente assopra o machucado e diz que vai passar, saímos de lá horas depois rindo pela primeira vez na vida. Sem fazer ideia do que viria a seguir, eis que começávamos uma nova etapa: finalmente a maternidade.