domingo, 26 de agosto de 2012

Nossas descobertas sobre você!!!

-- Interrompemos a programação da novela "A saga da adoção" para apresentar cenas dos capítulos futuros. --


A nossa filha ama banana e não gosta de morango.
Adora suco de laranja e detesta suco de manga (mesmo coado).
Ela ama brinquedos de montar e não dá muita bola para pelúcia, a não ser que eles interajam com ela como o pintinho gigante que pia.

A nossa filha adora desenhar, mas não liga para massinha.
A nossa filha pára o que estiver fazendo para começar a dançar e cantar quando ouve qualquer música (temos que evitar que ela ouça música ruim... hahahaha).


Existem 3 palavras mágicas pra ela: Passear, Banho e Presente.
Ela tem um sorriso muito doce e calmo quando acorda.
A nossa filha sempre dorme agarra em seu carneirinho azul.


Adora trocar de roupa e arrumar o cabelo. Adora pulseira, colar e brinco (mas as mamães dela ainda não tiveram coragem de levar ela pra furar a orelha).
A nossa filha ama bolinhos, sejam de brócolis, acelga ou chocolate, porém detesta comida seca.
Hoje minha filha já fala mamãe tah e mamãe tih.


Vovó é totó. E dinda é tinta.
Cada descoberta é fantástica. Cada fase é deliciosa.

Enquanto escrevo vejo meus 2 amores dançando.





Acho que não existe algo que me deixe mais feliz!!!


Camila

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Saga da Adoção - Um sorriso

"Ser mãe é se expor a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado". (José Saramago)

Eu não sou dada a replicar frases prontas, mas essa aí é tão nossa que tive que compartilhar aqui. Saindo da consulta com a AS naquele dia, aspiramos o ar de nariz erguido, o peito cheio de esperanças. Da minha parte, muita vontade de colocar em prática o que finalmente havia entendido; da parte da Cah, um alívio ao saber que "sim, estamos pegando nossa vida de volta".

E nossa pequena parecia pressentir que o tempo estava mudando. Ela não gostaria nada nada inicialmente, mas quem disse que é fácil ser criança? Logo que chegamos em casa (Lu e Lore, já me apossei da casa em poucos posts vocês perceberam? rs), ela tentou jogar o mesmo jogo de sempre, mas algo não deu certo. O que era? Ora bolas, estou aqui me esgoelando de tanto chorar e elas nem ligam pra mim? Isso não é justo, estou muito brava!! Ah se eu pego aquela AS de jeito ela vai ver só!

Foi assim por uma, duas, três vezes. As meninas chegaram do trabalho exaustas e tiveram que ver o show da L. (ok sei que vocês vão dizer que não se importaram, blablabla wiskas sachê, mas que foi UM SHOW, isso foi!). Ela não entendia por que não estava mais ganhando todos os colos do mundo, e por que tinha que aceitar certas coisas que não queria. A sequência de birras deu lugar ao sono e finalmente pudemos descansar. Minha mãe ligando sempre com uma dica na manga, nos dando mais confiança para fazer o que era preciso - é isso então? Esse é o caminho? "Não existe fórmula filha, mas toda criança é igual, precisa entender o que ela veio fazer no mundo, e precisa sentir confiança naqueles que cuidam dela. Se vocês têm amor no coração, então esse é o caminho sim". Ahhh o conforto do colo da mamãe (mesmo que distante) é insubstituível.

Eis que ela estava certa. No dia seguinte, ganhei um sorriso da minha boneca logo de manhã. Como pode? Até ontem ela não me deixava chegar perto, pensei que iria piorar depois de eu ter colocado de castigo tantas vezes. Mas pelo contrário, as coisas melhoraram muito em menos de 24h. Naquela mesma manhã consegui trocar sua roupinha sozinha, brincar, pegar no colo, e ainda ganhei uns trocados: ela passou a me imitar na hora das refeições, querendo tudo o que eu comia. Assistimos a tudo de boca aberta.

Aquilo me deu ânimo, descobri uma força que não sabia que possuía. E mesmo que nada até então tenha nos distanciado, com essa nova fase eu e a Cah ficamos ainda mais unidas. Passamos a combinar cada passo, discutir sobre como faríamos em cada situação para que L. liberasse seu lado doce e feliz cada vez mais. Imaginar que nossa família ainda era um sonho possível, depois de tanto medo, tanta dor e tanta vontade de largar tudo e voltar pra casa é algo impossível de expressar em palavras.

Estou aqui relatando os primeiros dias de paz de espírito, porque as birras continuaram! Cada vez ela tentava algo novo, relutava ao ouvir um simples não, e quando se empolgava com uma brincadeira e acabava fazendo algo que não podia, a gritaria era monumental. Mas não importava mais, pois ganhei um sorriso naquela manhã. E estava certa de que viriam outros...

terça-feira, 14 de agosto de 2012

A saga da adoção - Começa a maternidade

Bom, esse post demorou um pouco a ser feito por uma razão. Esse período foi muito difícil para mim (algumas de vocês sabem bem disso). Foi difícil relembrar as emoções, as situações que enfrentamos nesses poucos dias (que pareceram muitos). Mas acho que agora sai.

Como já comentei antes, a Cah conquistou nossa gatinha assim que chegou perto. Ela tem um jeito todo mãezona, é carinhosa, tem muito jeito com criança. Eu amo crianças também, e brinco muito com elas. Mas não tenho esse "quê". E tão logo ela se ligou à Cah, tratou de me rejeitar. Se antes ela gostava do meu colo, nesse dia já não dava nem a mão. Se antes pedia para brincar, nesse dia chorava com a minha presença. Não aceitava mais trocar as fraldas comigo, nem dormir, nem tomar banho ou escovar os dentes, não ficava comigo sozinha nem por um segundo.

Isso foi gradativo, como se eu perdesse um pouco de ar a cada minuto até que chegou ao segundo dia de rejeição e eu já estava em frangalhos. Meu emocional picotado, cada não dela era uma dor no meu coração.   E quando falo em dor no coração, não estou usando uma figura de linguagem, doía mesmo. Sentia uma pontada, um peso no peito, um nó no estômago e uma pressão nos ombros. Em menos de 48 horas eu não conseguia falar no assunto sem chorar.

A Cah conseguia tudo dela, e cada sorriso que ela dava - contra a cara fechada que eu ganhava - me feria. Me sentia fracassada, derrotada, frustrada por não poder curtir o momento como a Camila curtia, envergonhada por não conseguir o amor da minha filha, constrangida por estar passando por isso depois de tudo o que havia feito para tê-la conosco.

A Cah também não podia ficar feliz com isso. Ver que eu não conseguia me aproximar mais a fazia ter raiva da situação, e medo de ter raiva dela também. Afinal, nessa altura nós duas tínhamos o verdadeiro vínculo, ainda não éramos três. Éramos duas tentando ser três, nada além disso.

Todo esse sofrimento me encheu a ponto de não poder esconder mais. Lembro do peso de um momento em que ficamos nós duas no banheiro abraçadas, chorando, perdidas, uma buscando apoio na outra, só pensando em desistir de tudo e voltar pra casa.

Tinha que dividir isso com alguém, ou melhor, com alguéns. Queria saber se isso era normal, se eu era louca, se se se.... Corri para a internet, conversei com outras pessoas que estavam em processo de adoção também, passei uma tarde inteirinha de confidências com a Piu (dia inesquecível hein sapa? kkkk). Hoje posso pedir desculpas se a deixei aflita, mas o ombro que eu tanto precisava, encontrei ali. Um momento único que ajudou a aquietar meu coração.

Nossas queridas, extremamente sensíveis e carinhosas, sem poder ignorar tudo o que passávamos no cômodo ao lado, deixaram (sem combinar!) seu recado. A Lu me entregou uma cartinha antes de sair para o trabalho, a qual li três vezes consecutivas porque chorava tanto que engolia umas frases. Logo depois, foi a vez da Lore, que deixou na minha caixa de e-mails palavras escolhidas a dedo, revelando muito mais do que eu esperava saber na vida. Foram lidas aos soluços rs

Bem, de alma leve, mas ainda dolorida, nos arrumamos para a entrevista com a AS. Decidimos abrir os corações com ela, contar tudo o que estava acontecendo. Que alívio termos feito essa escolha. Assim que tive a oportunidade de ficar a sós com ela, desabei. Falei tudo o que sentia, o que estava acontecendo e como tudo isso estava sendo para mim. Me expus mais uma vez, ri, chorei, me desmanchei diante dela, e ela permaneceu com os braços cruzados impecável.

Quando terminei de relatar a novela, ela calmamente me olha e diz: meu bem, ela está te testando!

Hein?

É isso, ela está testando você - repetiu. Ela sentiu sua fragilidade, você ficou no lugar dela e hoje a menina abandonada é você.

Se tudo estava doendo até aí, imagina ouvir isso. Foi um tapa na cara, mas bem dado. E continuou, agora mais como um abraço: os filhos testam o amor dos pais, precisam entender se é real, se é duradouro, se resiste a tudo. Você precisa mostrar que veio para ficar. Ela não te odeia e nem te ama, ela não te conhece! Ela não conhece vocês, está com medo, não conhece o amor.

Eu fui ouvindo tudo com alívio, parecia que finalmente começava a respirar. Terminada a minha "terapia", chegava a vez da Cah, que também levou seu tapinha. Cah precisava proteger menos, mimar menos, dar menos atenção às birras. Resumindo: cometemos o erro das mães de primeira viagem! Só isso.

Como quando a mãe da gente assopra o machucado e diz que vai passar, saímos de lá horas depois rindo pela primeira vez na vida. Sem fazer ideia do que viria a seguir, eis que começávamos uma nova etapa: finalmente a maternidade.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A saga da adoção - Abrigo nunca mais

Eu tenho um lado bem pessimista e outro super Poliana, por isso vivo em um conflito interno, ora aceitando a vida com resignação, ora acreditando no final feliz... Ora engolindo amargo a realidade.

E é com essas várias eus que chegamos ao abrigo pela segunda vez no sábado de manhã. No primeiro dia vimos o gramado enorme de grama bem aparada, os brinquedos no jardim, os quartinhos arrumados e limpos, a cozinha bem servida, etc. No dia seguinte abrimos melhor os olhos: vimos crianças implorando atenção, tosse para todo o lado, brinquedos velhos quebrados, pouca gente para dar conta de tanta criança.

Não vamos jamais desmerecer o trabalho feito por lá, afinal a equipe consegue fazer milagres com a miséria que recebe de ajuda. Por mais que as crianças que vão para lá sejam "institucionalizadas", o governo não faz nada por elas, não paga o sustento delas, não dá comida, não dá fralda, não dá nada. Inacreditável!

Bom, mas deixando a indignação de lado, chegamos sábado para buscá-la. Combinamos que faríamos um passeio com ela acompanhadas pela diretora do abrigo e, correndo tudo bem, poderíamos levá-la embora daquele lugar de uma vez por todas. Ao chegarmos, ela estava sentadinha aguardando (sem saber o que) toda arrumada. Estava emburrada, não quis sorrir para nós, mas se deixou levar.

Fomos ao Zoo. Ela não quis participar de nada. Foi com muito custo de mãos dadas com a gente, ficou manhosa, quis colo, chorou um pouquinho, ficou assustada e curiosa com tudo ao seu redor, ela não estava acostumada com novidades. Super compreensível.

Levamos um velotrol pensando que isso a deixaria mais tranquila, mas ela não quis saber e ficamos carregando aquilo a manhã inteira rs Só depois de muito tempo ela deu um mini-sorriso. Começou tímido, escondido da gente, mas foi suficiente para respirarmos aliviadas. Estávamos com tanto medo de ela azedar de vez conosco! Mas ao contrário, mesmo séria ela queria nossa atenção, pegava na mão, aceitava nossos carinhos. Era como se dissesse: "Esperem, continuem tentando, comigo a coisa é devagar".

Depois de horas tentando, se aproximava o horário do almoço. Tínhamos que levá-la embora. Com o coração apertado, o medo de não ficar com ela nos acompanhou até a porta do abrigo. Mas enfim, atravessamos mais essa etapa e nossa pequena deu adeus ao lugar por onde viveu seus últimos (e únicos) dois aninhos! Que orgulho dessa pequena, enfrentou uma das maiores mudanças da sua vida sem deixar uma lágrima cair (ao contrário de umas e outras rs).

Chegamos à casa das titias Lu e Lore com ela no colo e logo providenciamos um almocinho gostoso. O calor era de matar, enquanto ela comia, tirávamos um sapato, uma meia, calça, blusa.... No fim, estava ela pequenininha, peladinha, cabelos soltos, livre como deve ser. Não sei quem das quatro babava mais. Falávamos todas muito baixinho, voz besta, olhos arregalados observando cada pedacinho dela.

Era um começo, o nosso começo. Ela não dormiria mais na mesma cama, não veria mais os mesmos rostos, não comeria mais na mesma mesa nem tomaria banho no mesmo banheiro. Naquele dia, nossa guerreira tomou seu primeiro banho de chuveiro como uma mocinha. Completamente muda, sem dar qualquer sinal de estar gostando ou não - mas sem chorar. Concluímos que foi bom.

Vontade enorme de dizer que tudo bem ficar com medo, nós também sentimos. A vida dá medo, mas é uma delícia quando entramos de cabeça.

domingo, 5 de agosto de 2012

A saga da adoção - O primeiro olhar

O plano deu certo. Viajamos horas e horas sem fim no nosso calhambeque 1.0. Fizemos uma única parada para comer e seguimos viagem, a euforia fazendo sumir a dor nas costas, o sono, o cansaço. A Cah, que sempre dorme tão fácil, ficou acordada cantando todas as músicas do nosso repertório para que eu não dormisse. Desse jeito chegamos em BH às 4h30 da madrugada de uma sexta-feira.

Nós íamos nos hospedar na casa das nossas amigas queridas Lu e Lore (Em Cores Almodóvar), mas vamos combinar que chegar na madruga no meio da semana batendo na porta é forçar a amizade né? Então paramos em um posto de combustível 24h, tomamos um café, encostamos o banco do carro e.....zzzzzzzZZZZZZ

Um cochilo de 1 hora e lá fomos nós para a entrevista com a AS marcada para as 8h da manhã. Desgrenhadas, sonolentas, amassadas, assim chegamos à Vara de Infância e Juventude. Como ela ainda não havia chegado, corremos para o banheiro para escovar os dentes, pentear os cabelos, trocar de blusa, lavar o rosto rs

Na entrevista, a AS aproveitou para nos conhecer um pouco melhor e também para falar mais sobre a menina. Nos deu algumas orientações sobre como deveríamos agir nesse primeiro contato e lá fomos nós conhecer a razão das nossas vidas.

Estranho falar assim: "conhecer a razão das nossas vidas", pois o primeiro olhar soou mais como um reencontro, um "até que enfim". Ao chegar ao abrigo, inicialmente não vimos as crianças, fomos ao escritório  conversar com a diretora do espaço. Espertinhos, eles deram um jeito para que nossa princesa passasse pela porta.... Foi eu virar para vê-la e desabei no choro LI-TE-RAL-MEN-TE.

Ok ok, eu tenho muito sangue italiano correndo nas veias, eu chorei no meu casamento, choro quando o cachorro morre no filme, choro quando vejo propaganda de dia das mães. Mas aí a coisa foi mais embaixo: eu fiquei sem jeito pela minha própria reação, a Cah me olhava com os olhos vermelhos, tentando segurar a onda. E eu recorrendo aos pensamentos mais absurdos para conter os soluços (sim, soluços) e manter a pose. A AS já tirou um lenço da bolsa e fiquei rindo e chorando ao mesmo tempo, comovida e envergonhada, sem saber o que falar.

Quando me acalmei, fomos até as crianças. A Cah liberou seu lado mais animado e conquistou a galera. Eu fiz mais o papel de cabide de criança nesse momento - não da nossa, mas de todas no recinto.

Eis que nossa pequena percebeu que a coisa era com ela. E foi se deixando aproximar devagar. Ela não era igual aos outros, ela precisava ser conquistada, era especial. No olhar dava pra ver seu gênio forte, mas no sorriso foi se revelando uma delicadeza impressionante. Um pouco frágil sim, mas mais do que isso, sutil, leve, miúda, sensível.

Ela se aproximou porque quis, porque ficou curiosa, achou divertido. Mostrou que gosta de música, pediu comida na boca, fez carinho na gente, pediu para ir lá fora, brincou conosco no escorregador, se deixou pegar no colo, riu, riu muito. E dormiu embalada por nós o soninho da tarde, o primeiro que vivemos com ela.

Às 14h já estávamos indo para a casa das meninas para descansar. Sem palavras para descrever, esse dia caiu como chumbo em nossos corações. Sentimos coisas que jamais sequer pensamos sentir, ficamos apaixonadas, falando dela por horas e horas. Sabíamos quantos dentes ela tinha, quantas vezes ela sorriu, que palavras conseguiu dizer. Tudo, simplesmente tudo ficou gravado.

As titias Lu e Lore esperavam notícias e seguimos noite a dentro compartilhando cada detalhe ignorando o sono que tomava conta à essa altura. A notícia boa foi além dessa manhã incrível: recebemos a autorização para tirá-la do abrigo no dia seguinte!!

Com esse gostinho na boca, dormimos exaustas.