quarta-feira, 25 de abril de 2012

A ordem dos fatores

Quem acompanhou o blog desde o início sabe que eu e a esposa tínhamos uma lista bem virginiana a seguir. E também sabe que determinados acontecimentos atravessaram essa lista sem piedade fazendo de tudo o que planejamos uma grande bagunça. Foi quando pedimos nossa carta de alforria e decidimos seguir a vida como a vida se apresenta. O curioso é que percebemos que, com ou sem lista, as coisas foram acontecendo, cada uma no seu tempo e com suas surpresas, por isso resolvi que era hora de fazer um balanço.

- Parei de fumar (11 meses)
- Aprendi a dormir 7 a 8 horas por noite
- Voltei a ler - mesmo que devagar
- Reduzi (um pouco) o ritmo de trabalho
- Não trabalho mais aos sábados e domingos (salvo exceções)
- Conseguimos acertar o despertador e acordar sem grandes atrasos
- Começamos a tomar café da manhã com frutas TODOS OS DIAS (a maior vitória)
- Estamos aprendendo a acabar com as discussões cada vez mais rápido
- Tiramos dois dias de folga e assistimos ao por-do-sol na praia
- Adequamos a alimentação da Cah (explico lá embaixo)
- Agora a super conquista: compramos nossa tão sonhada casa (!!!)

O filho ainda não veio, mas sinto que esse tempo foi crucial para que nós amadurecêssemos como casal e também individualmente. Ter um filho vai além do desejo de ser mãe, é preciso encontrar espaço em nossas vidas, adequar as coisas, melhorar os hábitos, etc.

Amanhã vamos buscar a chave da casa nova e então contamos 30 dias para a mudança. Nesse meio tempo, a Camila vai fazer uma cirurgia, o que me deixa um tanto quanto nervosa rs Acontece que depois de tantas idas e vindas aos médicos, ela descobriu que tem intolerância à lactose e também alergia ao leite. Como ela nunca soube disso, passou a vida consumindo algo que, para o corpo dela, era veneno. Resultado: provocou uma inflamação enorme entre o estômago e o esôfago e vai ter que operar. O médico fala que é um procedimento de rotina. Rotina para ele né bem?

Agora a correria é imensa, o que é bom, já que o processo de adoção chega ao 74º dia completamente às moscas. Falando nisso, a matéria para a revista do Conselho ainda não saiu, depois deixo o link aqui.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

O lado ruim

Nem todos aqui sabem, mas um dos meus trabalhos é escrever para a revista do Conselho Regional de Psicologia aqui do Paraná. A publicação é bimestral e sempre traz discussões relevantes sobre temas que estão na mídia, mas com o ponto de vista do psicólogo. A próxima edição será publicada em maio/junho, época em que acontece o ENAPA - Encontro Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção. Aproveitei, portanto, para fazer uma matéria especial sobre o assunto.

Para tal, conversei com diversas fontes, incluindo uma psicóloga que trabalha há muitos anos no MP do Paraná, especificamente nesta área. A cada minuto de conversa, meu lado profissional ficava mais satisfeito e meu lado pessoal mais angustiado. Concluí a entrevista convicta de que meus filhos vão demorar - e muito - para chegar. E não porque eu escolhi um perfil específico, é bem aberto até, mas porque simplesmente não existe quase nenhum interesse por parte da lei em fazer essa relação acontecer.

Foi angustiante constatar que a justiça está invadindo a vida privada sem dó, padronizando uma sociedade com leis absurdamente burras e o resultado disso é: crianças mofando nos abrigos completamente abandonadas pelo Estado e casais iludidos esperando em uma fila inacreditavelmente imensa, tendo que confiar na justiça porque, afinal, que outro jeito?

Respostas que ouvi: "Não, o CNA não funciona como deveria. Quem está inscrito em Curitiba, não vai ser chamado na Bahia"; "O processo de destituição do pátrio poder leva no mínimo um ano - durante esse tempo fica-se tentando achar familiares que queiram a criança - levando em consideração que existem muito mais crianças abrigadas do que profissionais trabalhando por elas, esse UM ANO vira facilmente 2, 3, 4 anos"; "A adoção é o fim da linha, a exceção. Algumas crianças simplesmente não vão a lugar algum por determinação da justiça"; "Não importa mais se você abre ou fecha o perfil, a fila existe e está atrasadíssima"; "Muitos finais felizes só acontecem porque existem profissionais interessados em fazer a diferença, se depender simplesmente das leis e do sistema, a coisa realmente não anda".

É claro que ouvi MUITO MAIS e não vou relatar tudo aqui. Cheguei em casa exausta, triste, desanimada. Saber de tudo isso da boca de alguém que está a vida inteira trabalhando por essas crianças é doloroso, me faz pensar que meus filhos nunca virão.

Quando a revista for publicada eu passo a matéria pra vcs.