quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Cotidiano

Depois de dois meses de convivência, enfim sentimos o peso e a alegria do cotidiano. Acordar e dormir sendo mães, escolher orgânicos na feira, levar calculadora para o mercado, andar às voltas com toalhinhas sujas de Danoninho, viver em constante conflito: culpa por ter sido muito rígida ou arrependimento por ter sido muito molenga?

Nesse período as mudanças foram gritantes. Mil dentes nascendo e crescendo sem parar, ela aprendeu a falar palavras-chave para sua sobrevivência: beijo (tedo), obrigada (bitada), presente (tedenti), dormir (mimi), mamá (mamá), mamãe (mãe, mamã, mãinnn, mamãeeeeee), cama (nãna), quarto (tato), desculpa (pupa), te amo mamãe (tiamamãe) kkkk E por aí segue seu vasto repertório. Falando em repertório, ela ama cantar e tem um ouvido apuradíssimo. Além das tradicionais canções infantis, ela adora cantarolar as músicas que a gente ouve em casa, as músicas do carro que vende sonho, as músicas das lojas populares, as músicas de campanha política, as músicas da trilha dos filmes, e assim vai. Às vezes uma música que ela ouviu ontem no rádio vai se manifestar no banho amanhã na maior afinação.

Tem dias que L. parece um anjo. Faz tudo o que tem que ser feito, se diverte com tudo, limpa o prato e bate palminhas no final, cantarola no chuveiro, brinca com o gato, inventa um jogo com seu amigo imaginário. Mas tem outros...... Aquela teimosia que só pode ter herdado da mãe Cah (brincando amor rs) deixa a gente de cabelos em pé e não há artigo de internet no mundo que nos diga o que fazer.

Eu e a Cah, sempre brincando de policial bom e policial ruim, revezamos as investidas para que ela entenda que as duas podem ser muito amorosas, mas que ela não vai conseguir de uma o que não conseguiu da outra. Ou seja, aqui a regra é clara: o que uma mãe manda, a outra não desmanda. E dá-lhe choro!

Faz pouco tempo que somos mães, mas nosso coração já se sente inflado, não lembramos mais de como é não tê-la conosco. Hoje finalmente o quartinho dela ficou pronto. Como ela não reage bem com novidades, achávamos que seria um desastre, mas que nada! Ela ajudou a guardar as roupas no armário, se divertiu com a arrumação dos brinquedos e foi dormir sem nenhum estranhamento.

E aí está finalmente uma foto da nossa princesa... Na sua hora da soneca.


Eu juro que ela está aí!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Pseudo-batizado


“Batizado da nossa filhota

Bem, não é bem um batizado, pois eu sou Kardecista e a Vih não segue nenhuma religião.
É mais como uma festinha de agradecimento a Deus e ao universo que sempre conspirou a favor desse reencontro de almas e corações.
Quem me conhece sabe que não sou muito de falar e nem de me expor, mas sou extremamente protetora com os “meus”. E minha família nesse momento está no ponto máximo desse zelo.
Li muita bobagem quando estava buscando inspiração para criar o texto do batizado dela, bobagens sobre como é caridoso o ato de adotar, como somos boazinhas por termos escolhido uma criança que muitos não escolheriam, e também bobagens do tipo “filha de casais gays nascem carregando o pecado dos pais”.
Claro que na hora fiquei bem brava e depois de desejar que todos terminem seus dias carecas, barrigudos e cheios de coceira resolvi deixar isso de lado e me focar no que tinha decidido fazer. Afinal era ela que tinha adotado duas mães abandonadas e carentes, né amore???

Li alguns textos do grande Chico Xavier, olhei para os olhinhos vivos e atentos da minha filha e veio... Simples assim... Palavras que apenas expressam um pouco do que ela é para nós.

Pedimos aos padrinhos para entregarem seus presentes em forma de pequenos bilhetinhos para ela ler quando estiver maiorzinha.

Convidamos amigos queridos e parentes próximos. Tudo regado a uma boa massa. Encomendei um bolo perfeito.

Pronto... Resolvido! O “batizado-festa” está pronto e a ansiedade para a chegada desse dia só aumenta. 




-- Vou tentar postar o texto do batizado amanhã e a foto das lembrancinhas, que não é porque eu fiz não, mas ficaram bem legais. E claro contar um pouco de como foi.-- 
                     Bjus Cah

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

A Saga da Adoção - A ponta do arco-íris

Os primeiros dias foram tão turbulentos que nem nos demos conta de que havíamos chegado na ponta do arco-íris. O motivo pelo qual fizemos tudo o que fizemos, pelo qual mudamos de cidade e de estado, mudamos de emprego, caímos e levantamos tantas vezes, enfim estava diante de nossos olhos. E ao contrário do que sempre imaginamos, demoramos para perceber e sentir.

Antes de ter um filho, a gente imagina um tipo de sentimento, de emoção. Achamos que vamos agir assim e assado, que vamos pensar tal coisa e conduzir a situação de determinada forma. Imaginamos que seremos totalmente diferente do que foram nossos pais e que nós sim seremos as precursoras de uma educação revolucionária. Eis que o momento acontece e você se descobre sentindo coisas inimagináveis. As dores do coração doem tão forte que tiram o ar (literalmente). As alegrias não são abobalhadas igual vemos nos filmes. Não! Elas são reais, profundas e não laterais. Elas não podem ser confundidas com euforia ou animação. É completamente o oposto disso. Ao mesmo tempo em que ficamos encantadas, habita hoje em nossas mentes um sentido de responsabilidade.

Pois é, nos tornamos responsáveis por uma vida. O significado dessa frase é indescritível. Afinal, aquela coisa da qual fugimos por boa parte da vida agora invade cada milímetro dela. E gostamos! É com prazer que conversamos, eu e a Cah, sobre os rumos da educação de L. É com absoluto amor e felicidade que impomos limites, mesmo sabendo que ela só vê nossa cara carrancuda e chora injustiçada.

Tenho zilhões de acontecimentos para relatar aqui no tocante aos próximos dias. Mas a data está se distanciando e perco a lembrança dos detalhes. Ao mesmo tempo, fico louca querendo contar sobre tudo o que tem acontecido AQUI E AGORA, antes que esqueça também disso. Resolvi então fazer um resumo sobre o fim do estágio de convivência, que durou ao todo 8 dias.

Depois de tomarmos as rédeas da situação, a confiança veio à galopes. Nos fortalecemos e começamos a entender o que tínhamos que fazer ali. É claro que isso tudo teve um preço: ao invés de recebermos a autorização para ir embora na quarta-feira, tivemos que aguardar mais uns dias.

Na última entrevista com a AS, L. era outra criança. E nós, outras mães. Em poucas horas estávamos com a tão sonhada Guarda Provisória em mãos! E junto com ela uma pilha de documentos para posterior encaminhamento da adoção definitiva (vou fazer um post específico sobre a parte burocrática do processo).

Mesmo assim, saímos de lá com uma sensação de que estávamos sequestrando L. rs Enfim ela iria com a gente, não teria mais AS nenhuma por perto, ninguém de olho dizendo o que podíamos ou não fazer. O estágio foi fundamental, mas não há preço que pague esse alívio que sentimos ao final de uma semana de avaliação constante.

Agora era hora de despedidas. Em uma semana de tantas emoções, compartilhamos nossas almas com pessoas especiais demais e nunca vamos terminar de agradecer. Lore e Lu, vocês mais do que nos hospedaram, vocês nos receberam de verdade. Nós chegamos lá, nos instalamos na casa de vocês, carregamos cada cômodo com nossas angústias, nossos medos e musiquinhas chatas, e vocês ainda tiveram fôlego para nos oferecer o ombro quando mais precisamos. Antes disso, nos conhecíamos muito pouco, mas agora as sentimos tão íntimas e tão próximas que parece que estão aqui do ladinho.

Aliás, esse é o melhor da amizade. Saímos dos braços delas para cair nos de outras duas pessoas excepcionais: Piu e Ceci. Depois de acompanhar de longe todo o fuzuê, suar frio quando tememos desistir de tudo, por fim só havia uma coisa a fazer: a viagem não seria completa se não passássemos em JF para dar aquele abraço apertado. E assim fizemos: exaustas, mas completas, saímos de BH e fomos à Juiz de Fora na sexta à noite.

O tempo que passamos lá foi curtíssimo, mas suficiente para realizarmos um sonho que, confesso, eu não imaginava que se concretizaria com tamanha perfeição: o sol fraco desperta o sábado para que pudéssemos ver L. e Mariah juntas! Nem todo o cansaço do mundo apaga o valor inestimável desse encontro. Por isso agradecemos imensamente a vocês também, nossas queridas amigas que estiveram ao nosso lado nas horas ruins e com as quais temos o prazer de curtir todas conquistas!

No sábado à noite, mais precisamente às 23h30, chegamos em casa com o nosso pote de ouro. A partir daqui, iniciamos uma nova a aventura: a maternidade vivenciada.