sexta-feira, 13 de abril de 2012

O lado ruim

Nem todos aqui sabem, mas um dos meus trabalhos é escrever para a revista do Conselho Regional de Psicologia aqui do Paraná. A publicação é bimestral e sempre traz discussões relevantes sobre temas que estão na mídia, mas com o ponto de vista do psicólogo. A próxima edição será publicada em maio/junho, época em que acontece o ENAPA - Encontro Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção. Aproveitei, portanto, para fazer uma matéria especial sobre o assunto.

Para tal, conversei com diversas fontes, incluindo uma psicóloga que trabalha há muitos anos no MP do Paraná, especificamente nesta área. A cada minuto de conversa, meu lado profissional ficava mais satisfeito e meu lado pessoal mais angustiado. Concluí a entrevista convicta de que meus filhos vão demorar - e muito - para chegar. E não porque eu escolhi um perfil específico, é bem aberto até, mas porque simplesmente não existe quase nenhum interesse por parte da lei em fazer essa relação acontecer.

Foi angustiante constatar que a justiça está invadindo a vida privada sem dó, padronizando uma sociedade com leis absurdamente burras e o resultado disso é: crianças mofando nos abrigos completamente abandonadas pelo Estado e casais iludidos esperando em uma fila inacreditavelmente imensa, tendo que confiar na justiça porque, afinal, que outro jeito?

Respostas que ouvi: "Não, o CNA não funciona como deveria. Quem está inscrito em Curitiba, não vai ser chamado na Bahia"; "O processo de destituição do pátrio poder leva no mínimo um ano - durante esse tempo fica-se tentando achar familiares que queiram a criança - levando em consideração que existem muito mais crianças abrigadas do que profissionais trabalhando por elas, esse UM ANO vira facilmente 2, 3, 4 anos"; "A adoção é o fim da linha, a exceção. Algumas crianças simplesmente não vão a lugar algum por determinação da justiça"; "Não importa mais se você abre ou fecha o perfil, a fila existe e está atrasadíssima"; "Muitos finais felizes só acontecem porque existem profissionais interessados em fazer a diferença, se depender simplesmente das leis e do sistema, a coisa realmente não anda".

É claro que ouvi MUITO MAIS e não vou relatar tudo aqui. Cheguei em casa exausta, triste, desanimada. Saber de tudo isso da boca de alguém que está a vida inteira trabalhando por essas crianças é doloroso, me faz pensar que meus filhos nunca virão.

Quando a revista for publicada eu passo a matéria pra vcs.

24 comentários:

  1. É muito triste isso! E é isso que me desmotiva com a adoção! Essa realidade! E ai a gente ve um trilhão de casos de maus tratos e o objetivo não é dar qualidade de vida para a criança, parece ser apenas mantê-la na família. Não que eu seja contra, quando tem alguem realmente responsavel... Mas o que vemos na maioria das vezes e o oposto disso! Quero ter filhos e gostaria que fosse pela adoção... Mas não sei se vai rolar devido à realidade do nosso país!

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  2. É verdade Lo, isso a gente sente mesmo... Mas como diz meu título, esse é o lado ruim. Sei que existem outros pontos de vista e não quero desacreditar completamente. Estamos esperando... em alguns momentos caímos, mas vamos ter esperança sempre.

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  3. Ah, Vivian, eu já ouvi tanto isso tudo que você disse...! Triste demais! Adotar no Brasil é praticamente um grande desafio. Por essas e outras eu não sei se teria coração pra isso.

    Agora pintou uma dúvida: vocês já pensaram em tentar adotar em outros países? Isso é possível?

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    1. Triste mesmo viu... Sobre adoção internacional não tentei não, mas que eu saiba pra começar é preciso ter condições de ir ao país e responder às legislações do local, passar o tempo de adaptação lá, etc. Acho que cada país é um caso, vou me informar só por curiosidade. Bjks!

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  4. Nossa... que banho de água gelada. :(

    Isso porque estávamos conversando hje sobre adoção e a Lu falou que deve demorar uns 4 anos pra conseguirmos. Como ainda nem começamos a tentar...

    Que angústia, Vivian. Por que as coisas têm que ser tão difíceis no nosso país?? Tanta criança abandonada, precisando de família, e a justiça só dificultando pra quem quer ser pai/mãe!

    Uma coisa que eu não sei se é possível, talvez você saiba me dizer: é possível, por exemplo, conhecer uma criança que mora em um abrigo e, a partir daí, correr atrás de adotá-la? Ou o único caminho é seguindo todos os passos que vocês estão seguindo primeiro, pra depois haver uma seleção baseada no perfil que vocês pediram?

    De toda forma, ficamos aqui de longe torcendo e rezando mto por vocês.

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    1. Oi Lorena, nem me fale, banho de gelo mesmo rs

      Eles não incentivam os pretendentes à adoção fazer isso que vc comentou - ir a um abrigo e batalhar pela adoção de uma criança em especial. Não recomendam pq a maioria das crianças que estão abrigadas hoje não estão disponíveis para adoção, e nesses casos a frustração pode ser ainda maior. É um beco sem saída né?? Ao mesmo tempo, sei de tantos casos que foram muito mais rápido do que eles dizem por aí... Se eu fosse vcs, já entrava com processo agora rsssss

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  5. Oi Vi!!!!

    Que saudades amiga..ando trabalhando tanto(graças a Deus, pq assim num fico pensando)...

    Olha Vi, eu te juro, to tão, mais tão desanimada, cansada...parece q agente nada, nada e morre na praia...

    Hj vou ligar para a psicologa e ver se ela me atende, pq ela ainda não me ligou...:(

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    1. Né sua sumida?? Muita saudade vê se tira uns minutinhos pra bater um papo hehe

      Olha, eu tb fiquei bem desanimada, mas não vamos nos deixar contaminar. Sei que isso é um dos lados da moeda, o que não podemos é sofrer por antecipação! Beijo enormee (liga pra psic sim, incomode muitooo rs)

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  6. Realidade triste e realmente desanimadora para quem está esperando!!! Difícil mesmo é a impotência que temos diante dessa situação...

    O único jeito é confiar que sua hora vai chegar!

    Bjus

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    1. Ah vai sim, tenho certeza! Obrigada querida...beijinhos!

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  7. Posso linkar seu texto numa comunidade que participo no face?
    É angustiante saber que as coisas sejam deste jeito, mas não percamos a fé.
    Grandes Beijos!!!!

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    1. Oi Renata pode sim! Que comunidade é essa? (curiosa rs) Bjkss

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    2. é uma comunidade fechada, falamos sobre adoção,vou ver se posso te convidar, como te encontro no facebook.Grandes beijos!!!

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  8. Vivi, não quero ficar fazendo a "poliana", não faz parte da minha personalidade ver o mundo com lentes cor de rosa. É muito importante termos conhecimento de tudo de ruim que pode acontecer, não nos iludir. Mas como vc disse para a Paty, é importante também tentar não se contaminar só pelo lado ruim. Quem foi que disse que seria fácil? Pelo contrário, todo mundo só sabe dizer que é (muito) difícil. Eu tenho procurado me apegar às histórias de sucesso... pelo menos para acalmar o coração. Bjinho e nos falamos durante a semana.

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    1. Fazendo a "poliana" foi óteemo rss Também odeio essa síndrome de carneirinho, mas faço como você, me apego às histórias de sucesso (que também são muitas) para aquietar o coração. Beijocas!

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  9. Oi Vivan! Penso que é sempre bom conhecer os dois lados, ainda mais, quando se trata da nossa justiça onde os processos criam bolores de tanto que esperam...

    Agora, como assim uma pessoa que está inscrita em Curitiba não vai ser chamado na Bahia? No encontro, as técnicas deixaram claro que isso pode acontecer, desde que a pessoa banque com suas despesas e etc.

    Abraço
    Elza

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    1. Pois é Elza, ela quis dizer no sentido de "é impossível isso acontecer atualmente"... Ela me contou sobre um absurdo de a justiça ter esquecido de cadastrar o processo de um menino. Fazia um ano que ele estava abrigado sem qualquer controle. Agora está com 2 anos e meio e vão começar o processo de destituição do poder familiar.... ele já poderia ter um lar.

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    2. Com o Cadastro Nacional de Habilitdos, em tese, presume-se que alguém de um estado pode adotar uma criança de um estado diferente/outra comarca, mas daí são muitos fatores que interferem. Além da trivial burocracia, o pretendente tem que arcar com todas as despesas e em caso de adoção tardia, tem que ter a disponibilidade de tempo e de $$$ para vivenciar o estágio de convivência lá na comarca do filho pretendido. Por isso é legal já ir programando uma poupança logo que decida se habilitar, para evitar desgastes futuros...
      O dia de buscar seu filho vai chegar e terão que estar preparadas né? rsrsrs

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  10. Olá meninas, tudo bom?

    Essa demora na adoção me dá uma gastura danada! Eles continuam a colocar a culpa no "perfil fechado" dos pais e por isso a fila não anda, mas na realidade não é bem o que vemos por aí. Tem muitas famílias de perfil amplo e que passam pela mesma morosidade da justiça. Sei que os abrigos até tentam fazer sua parte bem feita, mas falta compatibilidade de informações, falta boa vontade em agilizar a destituição, visto que muitas crianças não têm a mínima chance de voltarem para suas famílias biológicas, e da-lhe etc, etc, etc...
    Também escolhi a adoção para receber meu(s) filho(s) em casa e ainda que tudo pareça oposto, vou acreditar e correr atrás da habilitação logo!
    Alguns abrigos permitem que você visite as crianças com prévia autorização da A.S e caso se apaixone por alguma delas que já esteja com a DPF finda ou em curso e não tenha ainda pretendentes, você pode agilizar esse processo. É o caso de vocês?
    E sobre a escolha do perfil foi definido?
    Já tenho o meu perfil bem definido no meu coração, que está grávido!!!! rsrsrs
    Grande abraço,

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  11. Não sabia dessa permissão dos abrigos Re, fiquei super interessada, será que ainda é possível?

    No mais, que delícia mais um coração grávido!! Eu sei que um dia nossos filhos virão, apenas temos que aprender a lidar com esse processo. Nosso perfil é bem amplo, até 2 irmãos com no máximo 4 anos, raça e sexo indiferente. E o seu? Bjkss

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    1. Bom, "pelo que" (isso tá certo? rs) eu ando lendo nos blogs e comunidades do orkut, não são todas as comarcas que permitem a visitação de abrigos não. Sei também que SP é uma dessas, que não deixam ou dificultam bastante...
      Para a minha sorte, aqui no ES me parece que podemos sim, mas vamos ver na prática né?
      Ainda não sou habilitada, to no processo de habilitação com a esposa ainda, que acha que não dará conta, rs. Mas para mim é decisão já tomada, vamos ver como acertamos isso aí né? Que Deus me ajude...
      Meu perfil inicial é de 1 criança com até 6 anos, sexo e raça indiferente. Mas estou pensando seriamente em alterar para criança especial, sexo e raça indiferentes com até 3 anos, esse é o desejo do meu coração, só me falta a coragem mesmo... 3 aninhos é tão novinho!!

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    2. Ai, eu de novo... rs
      Vocês conhecem a comunidade GVAA do orkut? Deêm uma olhadinha lá no tópico criança procura família 2012. Quem sabe não tenha algum anjinho lindo com o perfil de vocês lá? Essa seria uma forma de agilizar a busca, fiquem atentas que funciona viu??
      Boa sorte!!

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    3. Re essa coisa de visitar abrigo está me dando uma coceirinha rsss Conversei com mais algumas fontes para a minha matéria e depois vou postar aqui umas informações novas (olha o suspense haha).

      Sobre o seu perfil, acho que vc precisa seguir seu coração, é o seu desejo de mãe gritando aí dentro, vai fundo que a coragem aparece rs Meu desejo era colocar até 7 aninhos, mas com a ideia de 2 irmãos eu preferi reduzir a faixa etária.

      Sobre o GVAA sigo horroresssssss já li tópicos inteiros em uma noite haha (aquela história da adoção internacional vc leu? da menina linda e terrível pré-adolescente). Vou ver esse tópico que vc falou, ainda não li.

      Beijos, vamos trocando figurinhas.

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