terça-feira, 21 de agosto de 2012

A Saga da Adoção - Um sorriso

"Ser mãe é se expor a todo o tipo de dor, principalmente o da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado". (José Saramago)

Eu não sou dada a replicar frases prontas, mas essa aí é tão nossa que tive que compartilhar aqui. Saindo da consulta com a AS naquele dia, aspiramos o ar de nariz erguido, o peito cheio de esperanças. Da minha parte, muita vontade de colocar em prática o que finalmente havia entendido; da parte da Cah, um alívio ao saber que "sim, estamos pegando nossa vida de volta".

E nossa pequena parecia pressentir que o tempo estava mudando. Ela não gostaria nada nada inicialmente, mas quem disse que é fácil ser criança? Logo que chegamos em casa (Lu e Lore, já me apossei da casa em poucos posts vocês perceberam? rs), ela tentou jogar o mesmo jogo de sempre, mas algo não deu certo. O que era? Ora bolas, estou aqui me esgoelando de tanto chorar e elas nem ligam pra mim? Isso não é justo, estou muito brava!! Ah se eu pego aquela AS de jeito ela vai ver só!

Foi assim por uma, duas, três vezes. As meninas chegaram do trabalho exaustas e tiveram que ver o show da L. (ok sei que vocês vão dizer que não se importaram, blablabla wiskas sachê, mas que foi UM SHOW, isso foi!). Ela não entendia por que não estava mais ganhando todos os colos do mundo, e por que tinha que aceitar certas coisas que não queria. A sequência de birras deu lugar ao sono e finalmente pudemos descansar. Minha mãe ligando sempre com uma dica na manga, nos dando mais confiança para fazer o que era preciso - é isso então? Esse é o caminho? "Não existe fórmula filha, mas toda criança é igual, precisa entender o que ela veio fazer no mundo, e precisa sentir confiança naqueles que cuidam dela. Se vocês têm amor no coração, então esse é o caminho sim". Ahhh o conforto do colo da mamãe (mesmo que distante) é insubstituível.

Eis que ela estava certa. No dia seguinte, ganhei um sorriso da minha boneca logo de manhã. Como pode? Até ontem ela não me deixava chegar perto, pensei que iria piorar depois de eu ter colocado de castigo tantas vezes. Mas pelo contrário, as coisas melhoraram muito em menos de 24h. Naquela mesma manhã consegui trocar sua roupinha sozinha, brincar, pegar no colo, e ainda ganhei uns trocados: ela passou a me imitar na hora das refeições, querendo tudo o que eu comia. Assistimos a tudo de boca aberta.

Aquilo me deu ânimo, descobri uma força que não sabia que possuía. E mesmo que nada até então tenha nos distanciado, com essa nova fase eu e a Cah ficamos ainda mais unidas. Passamos a combinar cada passo, discutir sobre como faríamos em cada situação para que L. liberasse seu lado doce e feliz cada vez mais. Imaginar que nossa família ainda era um sonho possível, depois de tanto medo, tanta dor e tanta vontade de largar tudo e voltar pra casa é algo impossível de expressar em palavras.

Estou aqui relatando os primeiros dias de paz de espírito, porque as birras continuaram! Cada vez ela tentava algo novo, relutava ao ouvir um simples não, e quando se empolgava com uma brincadeira e acabava fazendo algo que não podia, a gritaria era monumental. Mas não importava mais, pois ganhei um sorriso naquela manhã. E estava certa de que viriam outros...

3 comentários:

  1. Que fantástico, meninas! As crianças são todas iguais! Isso é fato! O "fingir" não prestar atenção e o não fazer é a ação que melhor efeito faz quanto a percepção dos pequenos aos nossos cuidados. Conseguem entender que de fato nos importamos quando brigamos, ensinamos e perdem os direitos numa ação de causa e efeito. Eles entendem muito bem e nos testam a toda prova, mais ainda quando estão cheios de sono...Aff... Pode ser que pela primeira vez na vida esta pequena tenha sentido que está sendo cuidada e com todo amor do mundo.
    Que o amor invada e fim...

    Bj

    ResponderExcluir
  2. Eu não vou dizer que a birra dela foi "mole, mole, fácil, fácil", não! hahahaha! Eu ainda estou impressionada com a capacidade desses pulmões tão pequenos! hahahaha
    O negócio é que tanto eu quanto a Lu amamos crianças, muito mesmo, e compreendemos birras, choros, batidas de pé, tudo isso. Quanto mais no caso da L., que nunca havia experimentado nada daquilo, do amor, dos limites, tudo era novidade, ela reagir de alguma forma era o esperado. Engraçado porque eu não sou mãe ainda, mas acho que de tanto conviver com mães e de ler sobre mães, estou bem mais tolerante às birras infantis. Já li muito também sobre desenvolvimento cognitivo dos pequenos pra saber que isso é normal, faz parte da idade, todos nós já passamos por isso... Por que nossos filhos não passariam, né?
    A verdade é que o maior show dela não foram as birras... o show dela foi o que aconteceu DEPOIS. Se lembra que eu viajei na terça e não vi nada do que veio depois acontecendo? Mas a Lu me mandava mensagens, "amor, a coisa tá inacreditável! Acordei hoje de manhã com a L. sorrindo!", "amor, tô tão orgulhosa das meninas, as coisas mudaram, você precisa ver!", e por aí vai... E eu, de longe, morria de felicidade, de emoção por todas essas conquistas. Voltar e ver vocês 3 em harmonia foi um presentão!

    E só posso dizer que me orgulho muito das mães que vocês se tornaram. E da pequena também, que apesar dos pulmõezinhos de aço, compreendeu logo que os limites faziam parte do pacote "amor" e passou a colaborar extraordinariamente. Você imaginou que seria tão rápido?? eu confesso que eu não! Mas isso só me faz admirá-la mais ainda, a criança sensível, amorosa e especial que ela é!

    Beijos nas 3!

    ResponderExcluir